Chegada a altura de preparativos para a mudança para Londres, chega a incontornável questão: o que fazer ao montes de coisas acumuladas ao longo destes anos.
Mudanças não me são estranhas, e algumas vezes as tive durante a vida. Quando somos pequenos não é preciso pensar muito, apenas seguir o plano dos adultos. Mesmo quando me mudei, um pouco mais velho, a questão não era ter de fazer grandes escolhas, mas como empacotar todas as matracas, cabos e lixeirada electrica, peças de computador, livros de banda desenhada, etc. e onde caberia tudo o que levou anos de Tetris a arrumar na casa anterior, neste novo espaço.
Quando mudei a primeira vez para uma casa sozinho foi na realidade bastante fácil. Uma casa, mesmo sendo um T1 pequeno no Alto de São João era certamente bastante maior do que o meu pequeno quarto em Alvalade. Tudo cabia e parecia que nunca na vida necessitaria de uma casa maior.
Passados uns 3 anos e uma separação, mudar tudo para uma nova casa já pareceu uma tarefa Herculeana. Já necessitou de uma camioneta de mudanças, e várias viagens de carro e carrinha. Quando estamos a carregar as coisas e a sentir as dorzinhas nas articulações dos dedos não conseguimos parar de pensar "Mas onde raio andei eu para acumular tanta coisa? Como é que isto cabia tudo naquela casa tão pequena?". Encontrei vários animais de estimação que achava perdidos e que afinal estavam no meio da trabalha, amigos que misteriosamente desapareceram no meio de festas loucas feitas em casa, um fato de mergulhador cor-de-rosa com os dizeres nas costas "Não é uma alforreca, é o meu rabo jeitoso!", cadeiras de tortura medievais, alguns documentos de Da Vinci perdidos que foram usados como embrulhos para os copos, e uma stripper tailandesa, sem pernas e com barba, que eu juro não me lembrar de ter contratado.
Desta vez a mudança é diferente. Não vou mudar para a Amadora, mas para Londres. Isto torna-se uma experiência quase espiritual, porque eu não vou realmente poder mudar tudo para lá, nem tenho muito espaço em casa do meu pai ou dos meus sogros para guardar muita tralha. Ora chegamos a um daqueles momentos da vida em que temos uma oportunidade de recomeçar. Se eu me sentar a pensar, 60% das coisas que trouxe não foram praticamente usadas nesta casa (tirando a stripper que acabou por ser optima a lavar a roupa). Nós passamos demasiado tempo a acumular coisas e a tentar arranjar espaço para as próximas. A maioria das coisas que guardamos, não o fazemos porque sabemos que vamos usar, mas porque pensamos que existe a remota possibilidade de no futuro as usarmos e temos medo de nos arrepender de mandar fora.
Eu estou realmente contente porque me vou desfazer de boa parte das coisas que tenho. Já vendi algumas, vou vender outras, vou oferecer outras tantas. Poucas serão as que vou realmente guardar, e ainda menos as que vou levar comigo. Como se costuma dizer, quero passar a ser uma pessoa que "Travels light". Sem lastro, sem apegos, sem âncoras ao passado que nos atormentam com recordações.
Em Londres terei uma casa pequena e terei poucas coisas para a atafulhar. E a stripper ocupa pouco espaço.
1 comment:
Boa Sorte! Para onde quer que vás, que sejas muito Feliz. Desejo-te o melhor do mundo.
Paz, Caridade e Amor.
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