Não conheço o vazio, que sempre considerei ser a entrada para a penumbra deixada quando apagamos a nossa própria vela. Um vazio que nos impele a soprar aquele último sopro. Sempre o temi. Meu deus, sempre sempre o temi. Como sempre tememos o que desconhecemos.
Não me posso queixar de tal sorte. Cá dentro, não me lembro de vazio. Lembro-me de grandes lacunas, e do remoínho que deixaram ao tentar preenchê-las com o resto das minhas entranhas. E lembro-me de transbordar. Como não me poderia lembrar de algo que me acontece tantas vezes? Perdido sim, mas não no vazio. Na escuridão talvez, onde as sombras nos atormentam sem muitas vezes mostrarem a cara. Ou no caos do passado, presente e futuro, das caras e cores e texturas que nos rodeiam e dançam em torno de nós ao som de músicas atormentadoras e vozes que ferem ou vozes que relembram as perdas e perdas e perdas que nos queimam por dentro.
Conheço o eco da minha própria voz a bater na ausência de quem chamo. Mas não o vazio. Há sempre algo lá. Pouco cheio ou transbordar, é o que conheço. Como um ser a quem é forçada a imortalidade, para viver uma vida de perdas. Forçado a viver e a sobreviver para lembrar.
"Toma ouro... cubram-no de ouro..." é o que oiço. O meu peso em ouro é o que recebo. E eu até sou pesado. Será que consigo alimentar-me de ouro?
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